A definição de Atenção Plena é estar focado no momento presente sem julgamentos, porém algumas pessoas só observam a parte de “estar focado no momento presente” e se esquecem do “sem julgamentos”.
No entanto, a verdade é que não existe Atenção Plena sem a prática do não julgamento, e vou explicar o porquê.
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História dos Julgamentos
Estamos em um processo de julgamento de tudo e todos constantemente, e esse processo vem da Pré-História.
O homem, na Pré-História, precisava julgar as situações para poder decidir se eram seguras ou perigosas. Por isso, o julgamento é uma característica primitiva do nosso desenvolvimento como um corpo físico. Isso é algo normal.
Mas, em nossa sociedade moderna, esse julgamento saiu do controle. Não conseguimos observar algo sem julgar esse elemento como bonito ou feio, salgado ou doce, legal ou chato, bom ou ruim, e o pior de tudo é que fazemos isso o tempo todo.
Por exemplo, quando conversamos com alguém, mas não prestamos atenção no que a pessoa está dizendo, é porque estamos julgando-a mentalmente. Enquanto a pessoa fala, pensamos: “Essa roupa é muito chamativa, o cabelo está mal cuidado, essa gíria nem se usa mais…”.
Julgamentos afastam a realidade
Assim, não estamos presentes no momento porque a mente está em um processo de julgamento totalmente afastado da realidade. E nem estamos tendo uma interação verdadeira, porque isso só ocorre quando desligamos o julgamento e prestamos atenção no que a pessoa está falando.
Porém, na maioria das vezes que interagimos com alguém, não estamos prestando atenção no que a pessoa está falando, e sim julgando a pessoa ou o seu discurso.
Com base nesse julgamento, tomamos decisões como nos afastar da pessoa ou não confiar nela, só que nem conversamos com a pessoa direito. Apenas pegamos uma palavra que ela falou, a julgamos, a sentenciamos e, então, decidimos dela nos afastar. Assim, as relações começam a ficar superficiais em nossa vida.
Ter presença
Todos que encontraram o Dalai Lama dizem que nunca se sentiram tão acolhidos por alguém quanto por ele. Mas o que o Dalai Lama faz? Nada de especial, ele simplesmente presta atenção, de verdade, na pessoa.
Para a outra pessoa que está se comunicando com ele, isso traz uma sensação de plenitude, de aceitação. E as interações verdadeiras da vida, com tudo, desde alimentos até pessoas ou situações, vêm do não julgamento.
Então, se abrimos mão de julgar o outro, possibilitamos trocar experiências entre os dois mundos, enriquecendo nossas vidas. Do contrário, nossa existência vai ficando cada vez mais superficial, baseada em imagens mentais e ideias pré-concebidas.
O não julgamento
Quando falamos de julgamentos internos, isso tem ainda mais a ver com a Atenção Plena. Isso porque, quando ainda não desenvolvemos o não julgamento, identificamo-nos com os pensamentos do passado que nos geram culpa.
Se estamos meditando e vem um pensamento sobre quando tínhamos 22 anos e fizemos algo terrível para alguém (de acordo com o nosso ponto de vista), em vez de apenas observarmos esse pensamento, julgamos a nós mesmos por ele cada.
Mas o fundamento da Atenção Plena é: “Eu não sou meus pensamentos, eu sou o Observador dos pensamentos”. Então, se estamos meditando e surge essa imagem do passado – o que é um processo natural –, devemos apenas observá-la.
Se julgarmos essa imagem, vamos nos identificar com ela. E, caso isso ocorra, estamos saindo da Atenção Plena e passando para uma rememoração do passado, que quase sempre é somente um meio para a autopunição.
Por isso, o autojulgamento nos é tão prejudicial. Porque, se fizemos algo no passado que hoje consideramos negativo, só temos essa consciência hoje porque acumulamos muita experiência sobre isso antes.
Não podemos julgar quem éramos pela consciência de hoje. Afinal, só entendemos profundamente nossas ações porque vimos os resultados e os impactos delas em nossa vida e na vida de outras pessoas.
Antes disso, não tínhamos como saber à qual resultado aquele caminho levava. Por isso, o autojulgamento é algo absurdo, porque nos julgamos por algo que não sabíamos e que, se não tivéssemos feito, não poderíamos aprender.
Claro, depois que observamos as consequências das nossas ações, decidimos se continuamos fazendo isso ou não, mesmo que seja algo que nos cause energias baixas e sentimentos negativos pois temos nosso livre-arbítrio.
Auto julgamento
Mas esse tipo de julgamento de decidir continuar fazendo algo ou não é diferente do autojulgamento e da autopunição. É positivo decidirmos continuar tendo determinada atitude ou não; porém, ficar se julgando o resto da vida só dificulta nosso caminho.
Observem como queremos ser os juízes e os executores da sentença para nós mesmos. Julgamos a nós mesmos por algo que fizemos de negativo para alguém, colocamo-nos em uma cela que se chama culpa, jogamos a chave fora e passamos o resto da vida presos.
Só que não ganhamos absolutamente nada com isso, porque autopunição não é expansão da consciência. Expansão da consciência é compreendermos realmente a profundidade das nossas ações e vivermos de modo coerente com essa compreensão.
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