O córtex pré-frontal é uma área do cérebro que está envolvida em muitas funções, incluindo a tomada de decisões, o planejamento e a execução de movimentos.
Também é importante para a memória de longo prazo e para o controle emocional.
Neste artigo, vamos nos concentrar nas funções do córtex pré-frontal e como a meditação pode afetá-lo.
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Como sabem, não sou médico, nem especialista em neurologia, portanto, estou apenas pegando estudos que já foram feitos – principalmente pelos três autores que vimos anteriormente – e colocando-os para vocês. Por isso, recomendo que pesquisem mais a fundo sobre o tema por conta própria.
Cabe relembrar que todo conteúdo que estamos vendo sobre corpo físico vem de estudos científicos, logo, essa não é uma abordagem mística ou sobrenatural da meditação.
Abaixo, temos uma imagem que ilustra, e destaca em vermelho, a localização do córtex pré-frontal em um cérebro humano.
A região do córtex pré-frontal é responsável pela regulação corporal, pelo balanço emocional, pela empatia emocional, pela empatia cognitiva, pela gestão do medo, pela administração dos impulsos, pelos pensamentos sobre o futuro e o passado e pela moralidade.
Veremos detalhadamente cada uma dessas funções a seguir.
Regulação Corporal
A regulação corporal é o equilíbrio entre os sistemas simpático e parassimpático.
O Sistema simpático é o sistema de alerta do corpo. Lembrem-se de que sobrevivemos como espécie por conta da nossa capacidade cerebral de antecipar o perigo.
Então, o sistema simpático é aquele sistema que vê uma ameaça vindo em nossa direção e libera todo um conjunto de substâncias no nosso corpo físico para que possamos fugir. Ele é responsável pela nossa autodefesa.
Já o sistema parassimpático é o sistema que traz calma e equilíbrio. Um animal, por exemplo, quando não está sendo ameaçado, está calmo.
Porém, quando esse mesmo animal está ameaçado, todo o corpo dele entra em estado de alerta. Diante disso, ou ele corre ou luta.
Todos os mamíferos possuem o córtex pré-frontal, mas o dos humanos é mais desenvolvido.
Ademais, como vimos, eles também possuem o sistema simpático e parassimpático, que faz essa regulação entre o estado de alerta e o de relaxamento.
Entrando um pouco no tópico do estresse, começamos esclarecendo que o estresse nem sempre é negativo. Todo ser passa por momentos de estresse, isso é algo natural.
Uma zebra, quando está sendo atacada por um leão, está passando por um momento de estresse, e ele é positivo, pois a zebra precisa entrar em estado de alerta para ter a capacidade de fugir do leão. E, quando ela consegue fugir e se livrar de qualquer tipo de ameaça, o corpo dela entra em estado de relaxamento novamente.
No entanto, na sociedade moderna, estamos sempre “fugindo do leão”, e esse estresse constante é negativo. Não há problemas com picos de estresse, como, por exemplo, precisar entregar um trabalho para amanhã e estar atrasado.
Esse pico de stress é necessário para liberar adrenalina em nosso corpo e conseguirmos fazer aquela função mais rápido. Agora, se todo dia estamos nesse pico de estresse, isso danifica nosso sistema.
Quanto mais desenvolvido o córtex pré-frontal é, mais conseguimos estar em estado de alerta, mas também mais conseguimos estar em estado de relaxamento. Além disso, conseguimos diferenciar e regular melhor esses estados.
Balanço Emocional
O balanço emocional refere-se ao equilíbrio de nossas emoções. Na próxima aula, trataremos da amígdala cerebral, parte do cérebro responsável pelo nosso instinto de sobrevivência e pelas nossas reações.
A amígdala cerebral está ligada ao sistema simpático e desperta em nós o estado de alerta e a reação de luta ou fuga. Mas é o córtex pré-frontal que regula a amígdala e, quanto mais ligações estiverem estabelecidas entre os dois, menos violentos, raivosos e reativos somos.
A amígdala, a partir do momento em que é estimulada, leva-nos a ações impensadas. O córtex pré-frontal é o que nos possibilita parar e pensar antes de agirmos ou de dizermos algo. Essa é mais uma responsabilidade dele.
Empatia Emocional/Sintonização
Empatia emocional, ou sintonização, é a capacidade de sentirmos o outro. O córtex pré-frontal é que nos dá essa capacidade de termos empatia, ou seja, de nos colocarmos no lugar de outra pessoa.
Quanto mais desenvolvido o córtex pré-frontal, mais capacidade empática temos. Por sua vez, quanto menos desenvolvido o córtex pré-frontal – isto é, por-tanto menos massa cinzenta e ligações neurais –, menos empatia temos.
Pegando como exemplo o caso dos psicopatas, que não têm empatia alguma pelo outro, podemos dizer que eles possuem problemas neurológicos no córtex pré-frontal ou, ainda, na ligação do córtex pré-frontal com a amígdala, embora, claro, existam outros problemas e fatores associados.
Entretanto, basicamente, eles não possuem empatia porque é o córtex pré-frontal que nos dá essa capacidade. E, tendo essa capacidade, conseguimos compreender, por exemplo, que, se batemos em alguém, essa pessoa sentirá dor.
Empatia Cognitiva
Empatia cognitiva se refere à capacidade de perceber o ponto de vista dos outros. Por exemplo, imaginem que alguém nos diz que tomou determinada atitude porque estava desesperado.
Se temos o córtex pré-frontal desenvolvido e saudável, vamos chegar à conclusão de que a pessoa, naquela situação, não tinha outra opção a não ser fazer o que fez.
Obviamente, existiam outras opções, mas, colocando-se no lugar da pessoa e pensando como ela, não havia.
Compreender isso inclui ver o mundo pelos paradigmas da pessoa, dentro das programações cerebrais dela e de acordo com o que ela é.
Desse modo, podemos entender por que algumas pessoas tomam atitudes que nos parecem terríveis.
Gestão do Medo
O córtex pré-frontal atua na gestão do medo inibindo a amígdala, que é quem dispara essa sensação. Isso significa que, quanto mais desenvolvido o córtex pré-frontal, melhor ele faz essa regulação da amígdala, e, então, menos medo sentimos.
Percebam como tudo que estamos vendo vai contra a ideia de que nascemos com características que não podem ser mudadas.
Podemos mudar tudo, uma vez que nossas características são um aspecto momentâneo dado pelo nível de desenvolvimento de algumas regiões cerebrais.
Por exemplo, quem sente muito medo na vida pode agir assim por ter um córtex pré-frontal pouco desenvolvido, mas, por meio da meditação, da Atenção Plena e de várias outras técnicas, essa pessoa consegue estimular o desenvolvimento dessa região.
Esse é um processo físico, como ir à academia e desenvolver os músculos do braço. Em estudos de escaneamento cerebral, perceberam um aumento no córtex pré-frontal e uma diminuição da amígdala em pessoas que meditam regularmente por quatro semanas em comparação ao período sem meditação.
Então, se não temos esse controle cerebral e as características desejadas, começamos a praticar meditação e com o tempo teremos. O que ainda não se sabe bem é se os benefícios da meditação perduram mesmo que se pare de meditar.
É certo que, praticando meditação diariamente, os benefícios se mantêm. Porém, se pararmos de praticar por um tempo, talvez haja um declínio no desenvolvimento do córtex pré-frontal.
Essa é a mesma relação que temos com os músculos do nosso corpo: se vamos para a academia todo dia, desenvolvemos e mantemos os músculos. Mas, se pararmos de exercitá-los, temos um declínio nesse desempenho.
Então, a meditação e a Atenção Plena devem ser incorporados ao dia a dia como um exercício físico. Pois, assim como não adianta malhar por um ano e parar, não adianta ter meditado há dez anos e nunca mais ter praticado.
Administração dos Impulsos
Já falamos sobre a gestão de impulsos quando abordamos a gestão emocional, pois esses tópicos estão relacionados. Além disso, como vimos, a gestão dos impulsos é essencialmente sobre a capacidade de pensar antes de agir.
Tendo o córtex pré-frontal desenvolvido, antes de dar um soco em alguém, por exemplo, conseguimos parar e pensar nas possíveis consequências desse ato. Então, é o córtex pré-frontal que nos impede de agir por impulso.
Porém, ao mesmo tempo, se estivermos em uma situação de perigo, como, por exemplo, nosso carro pegando fogo, a amígdala cerebral continuará ativa e dando o impulso de fuga, pois trata-se de nossa sobrevivência.
Por isso, é muito importante que a amígdala e o córtex pré-frontal estejam em equilíbrio. A ideia não é suprimir a amígdala, pois ela é necessária, o problema é ela estar hiperestimulada como está na maioria dos humanos.
Pensar sobre o Passado e o Futuro
O córtex pré-frontal também é responsável por refletirmos sobre o passado e planejarmos o futuro.
E aí tudo se complica, pois, ao mesmo tempo em que o córtex pré-frontal é extremamente útil e poderoso para os seres humanos, essa capacidade que ele oferece faz com que tenhamos muitos problemas.
Comparem-se a um cachorro no quesito pensar sobre os problemas, e vocês entenderão o que quero dizer. E isso ocorre porque somos uma das poucas espécies capazes de projetar o futuro e pensar sobre o passado, chegando, assim, a conclusões.
Claro, isso era e ainda é útil para a nossa sobrevivência. O homem pré-histórico precisava ter gravado dentro dele as experiências do passado para que, da próxima vez que fosse caçar, pudesse aprimorar sua técnica.
Ele também tinha que ter a capacidade de projetar o futuro para poder planejar a próxima caçada, ou imaginar por quanto tempo mais teria determinado alimento. Já os cachorros, por exemplo, não pensam se terão ou não a próxima refeição.
Na verdade, os animais em geral não têm uma noção muito boa do futuro. É totalmente instintivo para eles, quando possuem comida, comem tudo, e amanhã apenas procuram um novo alimento. Mesmo quando armazenam alimento, isso também é feito de modo instintivo.
O ser humano não faz isso. Somos capazes de projetar o futuro e de compreender que, se armazenarmos comida, teremos mais tempo antes de precisarmos buscar alimento novamente. Então, pensar sobre o passado e planejar o futuro é extremamente útil para nós.
O problema é que saímos do controle. Em nossa sociedade, temos abundância de comida e de segurança em comparação com as circunstâncias do homem pré-histórico.
Então, saímos do nível básico da sobrevivência, mas não aprendemos a regular nossos pensamentos de acordo com a nova condição.
Assim, em vez de usarmos nossa capacidade de olhar para o futuro e para o passado para sobrevivermos aqui na Terra como fazíamos, passamos a pensar apenas por pensar, gerando muita angústia em nosso sistema.
Mas é fundamental compreendermos que não é o ato isolado de pensar no passado que nos adoece, é a nossa falta de autocompaixão.
Porque, como não compreendemos e perdoamos nossas escolhas e nossos erros, vivemos em uma constante pressão interna.
Por exemplo, vamos supor que batemos em um colega da escola quando tínhamos 15 anos. Crescemos, nossos valores morais mudaram, nossa consciência expandiu e, hoje, consideramos essa atitude deplorável.
Sabemos que não faríamos o mesmo hoje, mas, quando lembramos desse fato do passado, não conseguimos evitar sentir culpa por ele. Basicamente, todos os pensamentos do passado acabam gerando algum nível de culpa nas pessoas.
Porém, repito, esse sentimento de culpa não é gerado por pensarmos no passado, mas por nossa falta de autocompaixão, que gera uma autocobrança extrema e uma incompreensão de que erramos porque não tínhamos a mesma consciência que temos agora.
Por sua vez, o futuro nos traz problemas atualmente porque estamos sempre criando projeções baseadas em nossos medos. É possível, mas poucas pessoas conseguem imaginar o futuro de uma maneira positiva.
A maioria das pessoas projeta no futuro o seu medo de morrer, de perder seus bens materiais, de perder o emprego, de ser abandonado e coisas afins. Novamente, o problema não está em projetar o futuro, mas sim em associarmos a ele pensamentos de medo.
Além disso, a culpa e o medo acabam por gerar ansiedade. Por exemplo, podemos projetar em nosso parceiro um trauma inconsciente de abandono e, por isso, mesmo ele não tendo intenção de partir, estamos sempre com a sensação de que vamos ser abandonados.
Essa sensação vai gerando ansiedade, a ansiedade vai crescendo e mudando nossas taxas hormonais, nossos batimentos cardíacos, nossa respiração, até que tudo isso pode culminar em uma síndrome do pânico, por exemplo.
E tudo isso começou por causa de um pensamento de medo, um pensamento projetado na mente sobre algo que não existe, pois a pessoa continua ao nosso lado. Durante o curso, iremos aprofundar ainda mais essa temática.
Moralidade
A moralidade trazida pelo córtex pré-frontal tem a ver com percebermos o impacto das nossas ações no bem-estar de todos. Essa moralidade não está diretamente relacionada a uma moralidade religiosa ou social, e sim a algo mais profundo.
Na minha opinião, Cristo deixou resumido em uma frase do que se trata essa moralidade do córtex pré-frontal: “Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você.”
Gostaríamos de sermos roubados? De sentirmos a sensação de sermos roubados? Não. Então, não roubamos. Gostaríamos de levar um soco na cara? Não. Então, não damos um soco na cara de outra pessoa.
Essa moralidade está muito ligada a não fazer ao nosso próximo o que não desejamos para nós mesmos. Seguindo esse mesmo pensamento, iremos oferecer amor porque queremos ser amados, iremos oferecer perdão, porque queremos ser perdoados.
Concluindo sobre o córtex pré-frontal: quanto mais desenvolvido ele for, quanto mais massa cinzenta tivermos, quanto mais sinapses existirem nessa região, mais fáceis se tornarão todas essas capacidades que vimos. E tudo isso é apenas uma questão de física.
Logo, apenas tentar não será suficiente para termos um alto nível de empatia pelo outro, porque a questão não é tentarmos, e sim exercitarmos e desenvolvermos nosso cérebro para termos essa capacidade.
Do mesmo modo que não tentamos voar com um carro, não exigimos do cérebro aquilo que ele ainda não desenvolveu. E aí entram os exercícios de compaixão, de Atenção Plena e de meditação.
Esses exercícios, e muitos outros, desenvolvem fisicamente nosso cérebro e, com isso, passamos a sentir coisas que antes éramos incapazes de sentir, pois, de modo geral, somos todos capazes de mudar nosso cérebro, e mudarmos para melhor.
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