Temos dois modos de estar aqui no planeta Terra: ser e fazer. Podemos estar fazendo ou sendo. Podemos estar no exterior ou no interior de nós.
Nesse artigos vamos refletir sobre o ser e fazer.
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Valorização do fazer
Nossa sociedade valoriza o fazer, tanto que escutamos desde crianças que, se não trabalharmos, seremos vagabundos, um “Zé Ninguém”.
Assim, crescemos acreditando que se não estamos fazendo algo, não somos algo. E, por escutarmos isso, dia após dia, nosso inconsciente nos força a estar sempre fazendo algo.
Quem trabalha com horários mais flexíveis sabe que, quando tira uma tarde no meio da semana para descansar, na verdade, acaba trabalhando ou pensando em trabalho. Isso ocorre justamente porque ficamos com a sensação de que é errado parar.
Não fazer incomoda
Por isso, junto dos momentos de quietude vem uma sensação de culpa. É muito difícil nos livrarmos dela, uma vez que ela está atrelada à ansiedade em relação ao futuro. Por exemplo, determinamos que sábado à tarde faríamos nada.
Com “fazer nada” quero dizer ficar deitado escutando música, praticar artesanato, cuidar do jardim ou qualquer coisa não relacionada a ganhar dinheiro. Porque o ser não está preocupado em ganhar coisa alguma, e sim com o prazer que a tarefa traz.
Então, estamos deitados escutando música e vem uma sensação de estarmos desperdiçando tempo, de estarmos ficando para trás em comparação a alguém ou atrasados de alguma forma. E essa enxurrada de pensamentos do futuro acabam com o momento presente.
Quais momento de ser e de fazer
Por isso, é muito importante determinarmos na vida quais são os momentos de Ser e quais são os momentos de Fazer. E Ser nós sempre somos, independentemente de estarmos produzindo ou não, de estarmos trabalhando ou não, pois é impossível não sermos na vida.
Mas o Fazer está atrelado à pressão social de estarmos produzindo algo. Então, se nosso prazer é escutar música, podemos tirar alguns momentos do nosso dia para simplesmente escutarmos música. Esse será o nosso momento de Ser.
Atenção plena e momentos de ser
Mas onde entra a Atenção Plena nisso? Como falei, no começo, os momentos para ser vêm recheados de culpa. Então, quando isso acontecer, repetimos mentalmente: “Esse é meu momento de ser.”
Quando a mente jogar um monte de cobranças do futuro, insistimos: “Esse é o meu momento de ser.” E quando estivermos em um momento de Fazer, dizemos “Agora é meu momento de fazer” e, então, colocamos foco no que estivermos fazendo.
Parece algo simples, mas estamos sempre fazendo justamente o contrário, e isso torna-se um problema para nós. Estamos fazendo algo, por exemplo, limpando a casa, loucos para acabarmos e podermos nos deitarmos no sofá.
Porém, no instante em que podemos relaxar, ficaremos pensando em todas as coisas que ainda temos para fazer. Assim, estamos no momento de fazer querendo ser, e no momento de ser querendo fazer.
Por conta disso, nunca há paz de espírito, pois nunca estamos plenamente em nenhuma das duas situações. Mas o fazer nada deveria ser um exercício diário de pelo menos 10 minutos, como um treino.
Exercício para ansiedade e angustia
Esse exercício de Ser nos ensina a controlar a ansiedade do futuro, retornando nosso pensamento para o momento presente. Esse aprendizado é necessário porque, como vimos anteriormente, o ego odeia estar no agora.
Afinal, no momento presente, ele não existe. Então, o ego sempre traz o futuro ou o passado para nossa mente para continuar existindo.
Por isso, fechar os olhos e ficar sem fazer nada por no mínimo 10 minutos diários é o primeiro exercício básico de Atenção Plena.
Nesse exercício, também podemos incorporar a técnica da respiração. Inicialmente, ela parece muito básica, mas acreditem, apesar de simples, ela é muito profunda. Só pensamos que não porque nossa sociedade tende a achar que o que é simples não funciona.
Se eu indicar uma meditação de cabeça para baixo no Monte Everest, as pessoas vão achar que ela é muito eficaz, mas não pensarão o mesmo sobre o ato de parar e respirar, quando, na verdade, essa é a técnica mais básica e que mais dá resultados.
Para fazê-la, precisamos apenas separar 10 minutos do dia para irmos para um canto mais calmo e respirarmos.
Quando vier algum pensamento, dizemos: “Eu estou no meu momento Ser, não estou no meu momento Fazer.” Então, apenas prestamos atenção na respiração.
Mas o contrário também pode e deve ser feito. Vamos supor que precisamos lavar a louça, então vamos prestar atenção na gordura do prato, na espuma, na textura da esponja, na água caindo na nossa mão.
Quando um pensamento do futuro surgir, como, por exemplo, “Termina logo essa louça porque ainda temos que fazer o arroz!”, pensamos “Agora estou lavando a louça” e voltamos para o presente.
Essa prática vai nos trazendo uma qualidade de produção muito maior na vida, apenas por prestarmos atenção no que estamos fazendo no momento em vez de estarmos no momento presente com o pensamento na próxima ação.
Experimente prestar atenção na respiração
Por incrível que pareça, esse exercício causa uma angústia enorme nas pessoas. Experimentem ficar dez minutos simplesmente prestando atenção na respiração. A mente parece um cavalo selvagem ou, como os budistas diriam, “com macacos pulando na cabeça”.
Por isso, esse é o primeiro exercício e o mais básico que existe em meditação e Atenção Plena. Uma vez, um discípulo chegou para o mestre e disse: “Mestre, quero aprender a meditar!”.
O mestre falou: “Então, sente-se aí e não faça nada.” Cinco minutos depois, o discípulo disse: “Isso é impossível, eu estou ficando louco!”. Essa historinha ilustra o quão viciados estamos no Fazer.
E o pior é que identificamos o Ser com o Fazer. Assim, achamos que só somos alguém e só temos alguma importância se estamos fazendo algo que seja aprovado pela sociedade. Só que o Ser é muito mais profundo que isso.
O Fazer são coisas que temos que fazer no dia a dia porque vivemos para o planeta Terra e essas são atividades que todos os animais fazem. O leão sai para caçar todo dia, a zebra sai para pastar todo dia, os pássaros saem para procurar alimentos todos os dias.
Mas, ainda assim, não vemos o leão caçando o tempo todo, não vemos os animais o tempo todo fazendo. Porque eles têm o momento de Fazer, mas também têm o momento deSer, em que eles simplesmente contemplam.
Yin e Yang
É o yin e o yang novamente: movimento e repouso. Mas não entendemos que esse equilíbrio é necessário para nós também; assim, achamos que, para sermos mais produtivos, precisamos apenas fazer mais.
Mas não é assim que a mente funciona: para fazer mais, precisamos ser mais. Então, se vamos para a energia yang e fazemos, depois precisamos ir para a energia yin e sermos. Intercalando as energias, mantemo-nos produtivos e saudáveis.
Porque ficar sem fazer nada o dia inteiro também nos faz mal, assim como fazer o dia inteiro também o faz! E é por isso que a nossa sociedade está enlouquecendo. As pessoas trabalham 8 horas por dia, depois vão para casa e continuam pensando no trabalho.
As soluções vem da não ação
Mas, se observarmos, as grandes ideias e soluções na vida surgem no repouso, e não no movimento. E não achamos as soluções no movimento, porque ele é o ato de ação, e não o ato de reflexão. Por isso, precisamos desacelerar.
Se esfregamos uma mão na outra, uma hora começará a superaquecer a nossa pele. Esse mesmo processo físico ocorre com nosso cérebro quando fazemos sem parar e superestimulamos determinadas áreas cerebrais, principalmente a amígdala.
Quando a amígdala cerebral é continuamente estimulada, ela comanda a liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina, que sobrecarregam nossos órgãos e nosso sistema de um modo geral. Assim, surgem os conhecidos efeitos do estresse.
Por isso, não podemos resumir nossa vida ao Fazer, pois não somos simples repetidores de tarefas. Porém, se seguimos apenas o que aprendemos socialmente, viveremos para cumpri-las, só que elas nunca terminam.
E quando paramos?
E quando paramos? Somente quando o corpo físico nos obriga porque uma doença surgiu. A doença é uma maneira de o corpo dizer que está no limite, que precisamos parar e descansar.
Todos sabemos que, se ligarmos um liquidificador por oito horas seguidas, em algum momento o motor vai superaquecer e queimar, mas fazemos isso com nosso cérebro e achamos que não haverá consequências.
Portanto, repito, deitem-se na cama por 10 minutos e simplesmente estejam no momento presente durante esse tempo. Sintam a dificuldade que é desligar, mas persistam! Esse é o primeiro passo, simples e fundamental, da Atenção Plena.
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